Do fundo do mar, Ismália chamava.
Gritava submersa, por ajuda ela clamava.
Em meio ao frio cortante, o desespero para a superfície alcançar
Mas de fora só se viam as pequenas bolhas de ar
Pulmões arranhados, a garganta ardia
Seus olhos o sal queimava
Na gélida água ela se debatia
E no escuro sozinha, ela chorava
Ismália ainda via a luz da lua a brilhar
Via e não entendia por que não conseguia alcançar
Aos poucos, a luz evanescia
E Ismália, sem esperança, desistia
Lágrimas salgadas em meio aos oceanos
Foi o legado que ela deixou
Apagada da história pelas mãos de tiranos
Um mero romance ela se tornou
Sobre Amélia muito se fala, e Ismália foi esquecida
Mas Ismália é a mulher de verdade, que dentro de todas nós habita
Louca, histérica, paranoica e suicida
Ismália fora, simplesmente, abandonada e mal compreendida
Nas mãos do poeta virou anjo, a tragédia para chamar de bela
Um conto entre bêbados na taverna
Ignoram, no entanto, a causa da loucura dela
Eu te entendo, Ismália
Por que pela lua quis ser abraçada
Presa no alto de uma torre solitária
Eu também mergulharia na chance de ser amada