Umedeceu os lábios com a língua e depositou um cálido beijo que provocou arrepios no corpo quente de sua vítima. Os olhos verdes tremeram ameaçando se abrirem e os lábios rubros soltaram um baixo suspiro. Os instintos de monstro não mais puderam ser contidos, e só o que sentiu em seguida foi o gosto adocicado de sua loucura escorrendo pela ferida provocada por suas presas sedentas.
Seus olhos se reviraram ao sentir aquele prazer cair direto para seus lábios, descendo por sua garganta, aliviando sua dor. Sua sede. Ouviu um baixo gemido escapar dos lábios de sua vítima, mas não desejava parar. A dor dela nada significava para ele.
Por que poupá-la quando ele sofria? Por que dar a ela a dádiva da vida se a ele tal deleite fora negado?
Mas poderia olhar pela última vez dentro dos brilhantes olhos verdes e presenciar o desespero ali contido. No entanto, não foi o desespero que encontrou ao olhar. Foi o alívio.
Não havia brilho, este havia desaparecido com o tempo. E agora a vida também se esvaía daqueles olhos tão profundos, os olhos que ele passara tantos anos admirando. Ela se entregara, assim como ele. E assim como ele, também tivera seu desejo saciado; ver, ao menos uma vez mais, os orbes avermelhados que perseguiram seus sonhos por tanto tempo.
Enfim, ele havia sorvido toda a vida que ainda restava naquele pequeno corpo. Fitou-a, fria e imóvel. Como parecia serena! A imagem da morte o lembrou de anos atrás, quando ela ainda possuía aquele ar sonhador, aquele encanto de criança que agora havia sumido em sua forma adulta. E era simplesmente linda.
Em seus lábios, lambeu os resquícios do doce que há tanto ansiava. Então, tudo o que restava agora era o sabor amargo da morte.