Visceral

Por Clarissa Roldi

É fogo que arde de dentro pra fora

Queima a alma e marca cada pedaço

Abraça, se alastra

Ocupa em mim todos os espaços

Destrói, consome, e o que estiver no caminho

a chama come

Do meu ego, às entranhas e o coração

Corrói, e tudo derrete

E quando apaga, o ciclo se repete

Nesta moradia incinerada

Parece não caber mais nada

Além da mágoa que preenche

As rachaduras das paredes

Durmo aqui, mais uma vez, dilacerada

Entre o insano e maníaco, a tristeza e pesar

Está a tal fronteira

O tênue fio onde busco me equilibrar

Na corda bamba, é o meu lar

E lá vem ela cantando, a graúna que me assombra

As garras que apertam o meu peito

E o bico que rasga a minha pele

Seja, talvez, o mais próximo de afeto que mereço

Uma hora vai embora

Deixa um vácuo, um buraco

Espalha suas migalhas

Que eu pego e me apego

É dor, é agonia, é remorso e alegria

É grito ensurdecedor, é canto encantador

É disforme, irreal, assustador, surreal

É meramente… visceral

Compartilhe!